quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Perfis Presidenciaveis

Seguindo a proposta de traçar um perfil dos candidatos à Presidecia, e após discutirmos ainda que brevemente a importancia da candidata Marina Silva e a relevancia da questão politica sobre a Gestão de Recursos Hidricos. Trazemos hboje uma reportagem extraida do site da UOL sobre o compromisso dos candidatos com uma serie de temas, comparando com as propostas do PV.


 PV da candidata derrotada à Presidência da República Marina Silva decidiu manter-se neutro no segundo turno da corrida eleitoral. A decisão colocou fim ao desejo dos candidatos Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) de conquistar o apoio da verde e, principalmente, os votos dos eleitores de Marina, que corresponderam 19,3% dos votos válidos no primeiro turno.
Mas qual dos dois candidatos, Serra ou Dilma, tem ideias mais próximas das de Marina Silva? O UOL Eleições fez um levantamento baseado nos temas apresentados pelo PV como relevantes em um documento apresentado aos partidos no início do segundo turno, nas respostas dadas pelos candidatos ao documento dos verdes e no discurso de Serra e Dilma no primeiro turno das eleições.
No resultado, Serra é o candidato com um discurso mais próximo ao de Marina Silva mas com um documento que responde a apenas 6 dos 10 temas propostos. Já Dilma apresentou um documento com propostas mais próximas, mas com um discurso de campanha mais distante (Uol, 25/10/2010)
 
A materia completa e os graficos comparativos se encontram no link abaixo:
http://eleicoes.uol.com.br/2010/ultimas-noticias/infografico/2010/10/25/que-candidato-tem-propostas-mais-proximas-das-de-marina.jhtm

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Poluição no São Francisco

Anteriormente discutimos o problema da poluição resultante da extração de minérios, entretanto outro tipo de poluição muito mais comum, normalmente muito relacionado ao desenvolvimento urbano desprovido de planejamento urbanístico, políticas publica e saneamento básico. O problema da poluição nos centros urbanos e em suas periferias é endêmico e impacta exponencialmente um rio do porte do São Francisco, pois a historia nos mostra que a maioria das comunidades em seus estágios primitivos  tendem a se aglomerar e desenvolver ao longo dos cursos hídricos, assim o a poluição urbana alcança todas as instancias do rio.

A poluição na bacia do São Francisco é decorrente, principalmente, dos lançamentos dos esgotos urbanos e industriais diretamente no Rio ou em seus afluentes. Noventa e cinco por cento dos municípios da Bacia não possuem sistemas de tratamento de esgoto. Além dos esgotos, os despejos de garimpo, mineradoras e indústrias contribuem para o aumento da carga de metais pesados. Outro problema grave é a utilização de agrotóxicos nas plantações, que contamina as águas do rio, os peixes e toda a vida presente no local. Esses danos têm acontecido cada vez mais em proporções maiores.

Essas constatações podem ser confirmadas por informações do projeto GEF (Global Enviroment Facility), iniciativa que reúne organizações não-governamentais de 178 países com o objetivo de chamar a atenção dos governos para os problemas ambientais globais. Segundo dados do GEF, as principais ações humanas que contribuíram e vêm contribuindo para essa degradação são:
  • Lançamento de esgotos não tratados das cidades ribeirinhas diretamente no rio São Francisco e seus afluentes;
  • Lançamento de efluentes industriais não tratados diretamente no rio e seus afluentes;
  • Poluição resultante da disposição e tratamento inadequado do lixo;
  • Poluição difusa de origem agrícola, comprometendo a qualidade das águas superficiais e subterrâneas.
Em Três Marias, a operação do reservatório pela Companhia Energética de Minas Gerais (CEMIG), em 30 de março de 2007, resultou em 40 ton. de peixes mortos das diversas espécies. Na Barragem de Pandeiros, no Norte de Minas, da mesma empresa, aconteceu caso semelhante com a mortandade de 30 ton. de peixes na abertura das comportas.
Outro afluente do São Francisco também tem sofrido agressões ambientais preocupantes. Trata-se  do Rio Verde Grande. Em relatório apresentado em maio de 2009, pela empresa Ecoplan, responsável pela elaboração do Plano de Recursos Hídricos, à Câmara Técnica Consultiva (CTC) do Comitê da Bacia Hidrográfica do rio Verde Grande, foram divulgados dados que comprovam a má qualidade da água da bacia, em função de falta de manejo adequado da agropecuária e a presença elevada de contaminação por esgoto urbano e uso excessivo de agrotóxicos.

FONTE:

Potencial mineral do Vale do Sâo Francisco


Após a discussão sobre o problema da mineração trazemos uma matéria, extraída do site Vale do São Francisco, sobre o potencial mineralógico do vale do São Francisco. Ressaltamos novamente o problema da extração de Urânio, cuja uma das maiores reservas do Brasil se encontram no vale do São Francisco.
A mineração de Urânio constitui um grande problema ambiental, principalmente no atual quadro de desenvolvimento econômico do país, que demanda grande suporte energético. Nos últimos anos os níveis dos reservatórios vêem baixando, obrigando o ministério de minas d energia a buscar novas matrizes energéticas para o país e investir fortemente na produção de energia nuclear, são prevista a construção de mais 4 usinas nucleares até 2034, além da conclusão de Angra III. Como o Brasil domina todos os processos de extração, transformação, beneficiamento e enriquecimento de urânio as usinas nucleares são a aposta para as próximas décadas, pois o Brasil possui a 6° maior reserva de urânio do mundo,  e ainda possui imensas áreas não pesquisadas como o centro-oeste e norte.
Normalmente o urânio é encontrado associado a outros minerais e a grandes profundidades, após a identificação do mineral através de aparelhos que detectam radioatividade são perfurados poços diversos poços para fazer um modelo da reserva de urânio e outros minerais na área. Posteriormente é traçado o plano de extração do minério, teoricamente visando o mínimo de impacto, entretanto a historia de mineração no Brasil mostra que tem prevalecido a extração por mina à céu aberto, que e o modelo de extração mais empataste, devido a grande área de retirada de cobertura vegetal natural, à grande quantidade de rejeito rochoso, que formará uma nova coleção de relevos artificiais adjacente à mina e também os rejeitos químicos do beneficiamento do urânio. Após a extração o urânio é beneficiado ainda na mina, sendo triturado em moinhos para que os blocos que rocha atinjam tamanhos de até 30cm para então ser transformá-lo em “yellow cake”. Devido as fortes ligações moleculares do urânio com a rocha onde ele se prende é necessário uma media de 30 a 100 KG de Acido Sulfúrico para cada tonelada de rocha extraída, pois este é o único acido suficientemente forte para quebrar essas ligações. O rejeito dessa operação são enormes lagos de Acido Sulfúrico com pH que pode chegar a menos de 2. as empresas normalmente adicionam CAL para induzir o pH até 10, entretanto apenas a correção da concentração de peróxido de hidrogênio não basta, esses lagos tendem a perdurar, posto que no Brasil persiste a cultura de não recuperação das minas abandonadas.
Devemos lembra que estamos falando da exploração de urânio no vale do Rio São Francisco, logo um problema de contaminação de um afluente seria um problema ambiental de escala nacional.


A maior parte do vale do São Francisco ocupa uma depressão geologicamente antiga, onde o embasamento cristalino é constituído por uma grande variedade de rochas, que contêm depósitos minerais bastante valiosos e de grande suporte econômico para o País, como a área denominada de Quadrilátero Ferrífero, situada na parte sul, em Minas Gerais.
Em termos de indústria extrativista, é a única região do País que produz zinco, além da quase totalidade de cromo, diamante, prata e agalmatolito. Responde, também, por mais de 60% da produção nacional de chumbo, cobre, ouro, gipsita e pirofilita. Entretanto, essas atividades carecem de políticas adequadas para serem devidamente exploradas.
Do ponto de vista mineral, é um riquíssimo depósito. As reservas minerais do Vale, em termos de reservas medidas, são de:
  • 100% das reservas nacionais medidas de agalmatolito e cádmio;
  • cerca de 95% das reservas nacionais medidas de ardósia, diamante e serpentinito industrial; cerca de 75% das reservas nacionais medidas de enxofre e zinco;
  • cerca de 65% das reservas nacionais medidas de chumbo;
  • cerca de 60% das reservas nacionais medidas de cristal;
  • cerca de 50% das reservas nacionais medidas de gemas;
  • entre 40 e 20% das reservas nacionais medidas de dolomito, quartzo, ouro, granito, cromita, ferro, gnaisse, calcário, mármore e urânio.



    Fonte: MME/SMM/DNPM - Anuário Mineral Brasileiro, 1998.
    OBS.: Lançadas as quantidades medidas das reservas de minério dos municípios integrantes (parcial ou integralmente) do Vale, por Estado, exceto para gás natural e petróleo. Vide nota 4.
    Notas:
        (1) Relação Vale/Brasil.
        (2) Em mil m3.
        (3) Em mil kg.
        (4) Quantidade bruta produzida, em m3, por Estado


     Fonte:

    Impactos das atividades de extração

    A mineração causa enormes prejuízos à Bacia: na retirada do minério a vegetação é suprimida, os solos retirados, os lençóis freáticos rebaixados, causando poluição, erosão e assoreamento.
    Inicialmente, a mineração afeta a cobertura vegetal, em graus variados, desde a supressão total ou parcial na área a ser minerada, até a utilização de grandes volumes de água, em geral oriundas do próprio lençol freático, através de poços perfurados para trabalhos de estudos preliminares.  A atividade de extração gera profundas alterações, modificando toda estrutura física e social do local onde está situada a mina e a região no entorno.Mineradora Votorantim-Tres Marias-MG-Alto S.F.
    O método de lavra é o mais utilizado na exploração das substâncias minerais e é um dos principais fatores determinantes do nível de impacto ao ambiente, tendo grande influência na modificação da paisagem e escasseamento de recursos naturais. A grande maioria dos bens minerais é lavrada por métodos tradicionais a céu aberto onde o comprometimento ambiental é muito grande.
    Nesse método de extração, para se ter um maior aproveitamento do minério, acaba-se gerando uma maior quantidade de estéril, poeira em suspensão, vibrações e maiores riscos de poluição das águas subterrâneas e superficiais. Minas a céu aberto elevam gradativamente a produção de rejeitos, os subprodutos da mineração ou lixo, resultantes da escavação e extração que não interessam a empresa mineradora e, portanto precisam ser descartados.
    Considerando que o objetivo da empresa é livrar-se dos rejeitos da forma menos onerosa possível, para tanto se necessita da criação de uma área de descarte adjacente à área de lavra, sacrificando ainda mais a vegetação existente no entorno da mina. A depender da posição geográfica das barragens, construídas para serem depositados os rejeitos, não são descartadas as possibilidades de vazamentos ou rompimentos, comprometendo significativamente todo o ambiente através da contaminação dos reservatórios de águas superficiais e subterrâneas. Exemplos de vazamentos têm sido comuns: Barragem de rejeitos da Votorantim Metais em Minas Gerais  tem lançado efluentes no Rio São Francisco causando contaminação das águas e mortandade de peixes, prejudicando a cadeia alimentar e comprometendo a atividade de pesca.

    A má utilização da água por parte das grandes mineradoras tem gerado conflitos em função da inversão dos usos prioritários e por políticas públicas que suprimem a população local. As políticas públicas sempre vêm em benefício das grandes empresas, excluindo principalmente a população pobre. Comumente as indústrias mineradoras sugam grande parte da água através da perfuração de poços ou canalização de rios, limitando o uso para fins industriais negando sempre o uso humano e animal.

    É comum, em muitos casos, o comprometimento de nascentes que abastecem as fontes de água de uso permanente das comunidades.
    Sem redistribuição das riquezas
    O volume de riqueza produzida, especialmente pela via da exploração dos recursos minerais, não é revertida, nem minimamente, em favor da população. A exploração dos recursos naturais produz, além dos efeitos mensuráveis (desmatamentos, poluição dos rios e lagos, descapitalização ecológica, etc.), outros efeitos de mensuração mais complexa. A expulsão do homem da terra tem contribuído, por exemplo, para a reconfiguração do espaço urbano na Amazônia. Essa população engrossa a fileira dos que sobrevivem em condições subumanas, nas áreas periféricas das grandes capitais.
    Tem sido comum, em sua forma de abordagem junto a população, as empresas mineradoras utilizarem estratégias que afetam principalmente o que diz respeito às grandes necessidades sociais e econômicas básicas, tais como a geração de empregos e renda, apresentando promessas acompanhadas de números exorbitantes que não correspondem à realidade.Essas promessas submetem os trabalhadores aos diversos tipos de exploração e más condições de trabalho, sem compromisso como o fortalecimento da economia local e a preservação ambiental.

    Na maioria dos casos, forma-se uma aliança entre as elites locais, o prefeito e sua bancada na câmara para que o empreendimento se instale. A especulação imobiliária, pequenos comerciantes, empreiteiras e políticos se fecham em torno do empreendimento. Muitas vezes, dada a situação de desemprego, com o apoio das classes populares. A possibilidade de emprego, por vezes, é a grande esperança da população com a chegada desses empreendimentos. No entanto, há casos em que essa expectativa se converte em conflito. Seja pela falta de qualificação dos moradores do município, seja pela grande necessidade de mão-de-obra, os empreendimentos podem atrair e estimular a chegada de trabalhadores de outras regiões para a cidade.

    Mas não é só no Alto São Francisco que a mineração tem gerado problemas. No Médio São Francisco, na Bahia, no município de Caetité, há muito é explorado urânio. Na época de implantação da mina foi grande a luta das comunidades atingidas e realocadas, por respeito e indenizações justas. Agora, surgem denúncias de contaminação das águas por radiação do urânio.  De acordo com reportagem: “Análises feitas em amostras de água em locais próximos à mina de urânio de Caetité apontam para índices de radioatividade sete vezes acima do parâmetro estabelecido pela Organização Mundial de Saúde (OMS), de acordo com estudos feitos pelo Greenpeace (...). (1) Notícias chegam de que é grande a intimidação e até terrorismo por parte da empresa sobre as vítimas, para que cessem as denúncias...

    Uma menina de quatro anos, Tauana Chagas Silva, nasceu sem o braço esquerdo e tem um lado do corpo atrofiado. A comunidade de 300 habitantes da Vila de Juazeiro, no interior de Caetité, está amedrontada, achando que a anomalia é conseqüência da água contaminada. Outros casos são possíveis, conforme conta o motorista Valdemir Silva, 44 anos: “Aqui não brota milho, não brota feijão, pinto nasce com pescoço virado para trás, gado morre misteriosamente e já vi até bezerro nascer aleijado”. “Eu mesmo fiquei doente por causa da água. É dormência nas pernas, nos braços, no corpo inteiro, além de dor de cabeça e pressão alta”. (2)

    Atividade Mineradora
    O Complexo Minerário-Siderúrgico-Madeireiro não só domina o Alto São Francisco, como também é o principal eixo da economia de Minas Gerais. O setor siderúrgico demanda enorme quantidade de energia e carbono, grande parte suprida pelo carvão vegetal. Atualmente as siderúrgicas são abastecidas por carvão produzido nos Cerrados e Caatingas das Regiões do Norte de Minas, Bahia, Goiás e Mato Grosso. A monocultura do eucalipto também abastece esse setor e 75,7% do carvão proveniente dessa atividade são produzidos em Minas Gerais.

    Entretanto, segundo dados oficiais, no ano de 2006, foram produzidos no Brasil 35,125 milhões de m³ de carvão, sendo 49% originários de matas nativas - grande parte consumida pelas produtoras de ferro-gusa. Sessenta e seis por cento do carvão produzido no Brasil foram consumidos no Estado de Minas. Até 1988, mais de 80% da produção de carvão tinham origem da mata nativa.

    A atividade mineradora vem causando enormes prejuízos à Bacia do São Francisco. Na retirada do minério a vegetação é suprimida, os solos retirados, os lençóis freáticos rebaixados, causando poluição, erosão e assoreamento. Em toda a Bacia, a maior concentração de sedimentos em suspensão é nos afluentes do Alto São Francisco – Paraopeba e Alto/Médio Rio das Velhas.

    Em geral os impactos da atividade de produção de ferro-gusa em alto-forno a carvão vegetal se dão na geração de efluentes atmosféricos (material particulado na descarga, manuseio e peneiramento de matérias-primas e no alto-forno); efluentes líquidos (esgotos sanitários e águas pluviais – caracterizadas pela presença de sólidos em suspensão) e resíduos sólidos (finos de carvão vegetal e minério, escória e pó/lama de alto-forno).  Além da diversidade dos resíduos, é expressivo o volume gerado, representado em Minas Gerais, apenas nos resíduos sólidos, aproximadamente 3.800 toneladas diárias.

    Somam-se a estes os impactos gerados pelo uso da matéria-prima, carvão vegetal, nos altos-fornos. Parte disso decorre da atividade legalizada: desmatamento, implantação de grandes áreas de monocultura, com plantio de eucalipto, etc. É grande ocorrência de desmatamentos ilegais, em larga escala, sem qualquer licenciamento ambiental, comprometendo o cerrado brasileiro. Aí atua o crime organizado, com falsificação de notas para habilitar o desmate, venda e transporte do carvão, gerando danos ambientais e prejuízos econômicos e tributários ao Estado. A face ainda mais sombria, porém, é a exploração do trabalho infantil e escravo.

    Avanço da Siderurgia em Minas Gerais

    As unidades independentes de produção de ferro-gusa, que hoje totalizam 75 empresas e 118 fornos de carvão vegetal no Estado de Minas Gerais, produzem por ano, acima de 4 milhões de toneladas. Esta atividade é considerada de elevado impacto ambiental, classe 5 (em escala de 1 a 6).

    Verifica-se o expressivo crescimento das usinas chamadas “não integradas” (guzeiras), que produzem apenas ferro-guza, de 6.278 em 2001 para 9.467 em 2006, conforme dados do Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS). As guzeiras elevaram sua produção, em 2001, de seis milhões de toneladas para aproximadamente 10 milhões de toneladas em 2006.

    A Bacia do Rio São Francisco / MG, em 2001, época do levantamento realizado no Projeto Minas Ambiente, congregava a totalidade das indústrias independentes de ferro-gusa, distribuídas nas sub-bacias do Rio das Velhas (41%), Pará (43%) e Paraopeba (16%), afluentes da margem direita.

    A atual legislação ambiental mineira, que incentiva as guzeiras a consumir carvão vegetal, vem sendo alterada para facilitar os licenciamentos. O sistema continua extremamente ineficiente, permitindo que as guzeiras consumam carvão vegetal acima de 10% do permitido e paguem a multa mantendo altos lucros. Ainda são as próprias empresas que fornecem os dados para os órgãos ambientais. 

    Em Minas Gerais, ocorrem grandes conflitos sócio-ambientais com mineradoras, como no Parque Estadual Serra do Rola-Moça, Serra do Gandarela (Mina Apolo), Serra da Moeda Sul - Serra da Calçada, Serra da Piedade- Caetés. São áreas protegidas sobre jazidas que sofrem pressões e investidas das mineradoras, sem que o Estado esteja se mostrando forte o suficiente para a defesa e a preservação.

    Avanço da Mineração na Bahia
    O consumo mundial acelerado, impulsionado pela China e pelos países emergentes, inclusive o Brasil, dobra as descobertas de jazidas minerais no País, nos últimos dez anos. Os preços dos metais estão quatro vezes maiores. É visível em toda a Bacia do São Francisco a abertura de exploração mineral.

    Na Bacia do São Francisco / Bahia, a exploração do minério de ferro vai colocar o estado em condição de tornar-se o 3º no ranking nacional. (3) A Votorantim Metais investirá R$ 24 milhões em exploração mineral na Bahia até o final de 2008 para exploração de zinco nos municípios de Irecê e Mundo Novo, e níquel, em Pedras Altas.

    No Médio São Francisco, na Bahia, no município de Caetité, é explorada pela empresa pública Indústrias Nucleares do Brasil (INB) a maior jazida de urânio do Brasil, produzindo 400 toneladas de pasta de urânio por ano. Agora, grande exploração de ferro pela Bahia Mineração Ltda.(BML) está começando na mesma região A ferrovia Oeste-Leste inclui um trecho Caetité/Ilhéus, cujo objetivo está ligado a empreendimentos como este.

    Existe um grande investimento em pesquisa para exploração de minério, em Campo Alegre de Lourdes, Cobre em Riacho Seco / Curaçá (2.404 ha), e Ferro, Ouro e metais-base (níquel, cobre, fósforo e zinco) em Remanso, Sento Sé, Pilão Arcado, Casa Nova e Campo Alegre de Lourdes. (4)

    Carvoaria
    Dados oficiais indicam que, em 2006, foram produzidos no Brasil 35,125 milhões de m³ de carvão, sendo 49% originários de matas nativas. Já a demanda crescente por carvão, principalmente em Minas Gerais, vem deslocando os interesses das empresas carvoeiras para o Cerrado e para a Caatinga da Bahia, ameaçando os estados do Piauí e do Maranhão. Tres Marias-MG-Alto S.F. - foto 03

    Além da devastação, o relatório da Articulação Popular aponta que as carvoarias, principalmente as ilegais, são redutos de péssimas condições de trabalho, muitas vezes análogas à escravidão.
    No Brasil, muitas siderúrgicas usam o carvão vegetal para a produção do aço. Nesses termos, para cada tonelada de ferro produzida, são consumidos mais de 600 quilos de carvão vegetal – aproximadamente uma tonelada de árvores. Do total produzido de 35,1 milhões de metros cúbicos de carvão vegetal, 50% são de florestas nativas. Os maiores produtores são os estados de Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará e Espírito Santo. A produção regional de carvão consome 30 mil hectares por ano.

    De acordo com os artigos 45 e 46 da Lca, é proibido o corte e a utilização de mata nativa, por isso há o plantio de florestas homogêneas de eucaliptos para esse fim. Contudo, ainda que haja tal proibição legal e uma tentativa de educação da população em relação ao meio ambiente, o comércio ilegal se expande e cada vez mais áreas de mata nativa desaparecem do mapa.

    FONTE:

    (1) Maiza de Andrade e Juscelino Souza, Urânio contamina água de povoado, A Tarde, http://atarde.ideavalley.com.br/flip/tools/flipPrint/printMateria.php?id_materia=90ae5,
    (2)  Juscelino Souza, Caso de anomalia gera apreensão, A Tarde, http://atarde.ideavalley.com.br/flip/tools/flipPrint/printMateria.php?id_materia=fef01a,
    (3) Demanda acelerada dobra as descobertas de jazidas no País - Gazeta Mercantil -
    (4) Fonte: Companhia Baiana de pesquisa Mineral - http://www.cbpm.com.br/port/index2.asp?width=1280
    MATERIA EXTRAIDA INTEGRALMENTE DE :
    http://www.saofranciscovivo.com.br/node/265

    sábado, 16 de outubro de 2010

    Política e Meio Ambiente

    Apesar do primeiro turno das eleições já terem passado, trazemos algumas propostas e posições dos principais candidatos à presidência sobre meio ambiente e a transposição do Rio São Francisco, e também dos candidatos do governo de Minas.
    Também trazemos a perspectiva de Marina Silva candidata pelo PV - Partido Verde – conhecida como a candidata ambientalista e mais comprometida com as causas ambientais e sociais, que apesar de não ter conseguido ir para o segundo turno, desempenha um importante papel nesse momento, Dona de aproximadamente 20 milhões de Votos Marina Silva decide nesse domingo, dia 17, quem devera apoiar para o segundo turno, ou ainda há a possibilidade de que se mantenha neutra.

    Justificativa
    O atual contexto político é de suma importância, pois a pressão exercida por uma candidata, de expressiva popularidade e comprometida com o meio ambiente chama atenção do eleitorado e dos outros presidenciáveis para alta relevância dessa causa. Há décadas que temos o desprazer de prestigiar discursos vazios dos presidenciáveis acerca de todas as áreas de plano de governo, no entanto no que concerne á meio ambiente a inconsistência das propostas é ainda mais gritante. São nos apresentadas proposições que exaltam termos meramente publicitários como Sustentabilidade, sem que os candidatos  tenham de fato  comprometimento com a causa ambientalista em sua campanha, nem alinhamento ideológico com  esta. Suas alianças partidárias traem suas promessas de campanhas. A fim de trazer  um breve informático da opinião dos candidatos sobre  as questões que direta ou indiretamente interferem no  meio ambiente, sem que no entanto se manifeste qualquer posição particular em beneficio  de qualquer candidato, mantendo-se assim a neutralidade exigida, sem grandes esforços pois todos se mostram bastante despreparados.
    Cabe ressaltar a dificuldade em achar informações sobre a posição dos candidatos e mesmo do partido. Todos os sites visitados tratam de forma extremamente superficial do assunto e normalmente abarcando uma serie de temas sem se adentrarem nos pormenores de proposta de gestão ambiental ou de recursos hídricos. Por esse motivo notar-se-á a probreva de informações do presente artigo.

    Dilma
    Durante o tempo de confecção desse artigo, dois dias, notou-se uma maior ênfase do PT e sua candidata quanto ao meio ambiente, possivelmente em função da proximidade da divulgação do apoio de Marina Silva. Na primeira visitação ao site do PT não foi encontrado nenhuma noticia ou tópico especifico que tratasse do tema, porém hoje encontramos uma lista com “os 13 compromissos de Dilma com o desenvolvimento sustentável”.
    Segue Abaixo os 13 compromissos de Dilma com o Desenvolvimento Sustentavel, o link com o arquivo completo, extraído do site do PT, esta em fontes.
    1. Aprofundar o crescimento econômico com distribuição de renda e sustentabilidade ambiental;
    2. Combinar o crescimento econômico com baixo índice de emissão per capita de CO2;
    3. Avançar na integração da sustentabilidade ambiental às políticas públicas;
    4. Aprofundar a política de proteção, conservação e uso sustentável do patrimônio natural;
    5. Promover o desenvolvimento sustentável da Amazônia;
    6. Ampliar e fortalecer a participação da sociedade nas políticas ambientais;
    7. Incentivar a utilização de instrumentos econômicos para a sustentabilidade ambiental;
    8. Fortalecer a dimensão da sustentabilidade ambiental nas grandes obras do PAC, da Copa do Mundo e das Olimpíadas;
    9. Ampliar a matriz energética limpa e promover a eficiência energética nos transportes;
    10. Implementar a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) e trabalhar pela erradicação dos lixões do país;
    11. Ampliar e fortalecer a Educação Ambiental;
    12. Consolidar o Sistema Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA) e fortalecer a capacidade do licenciamento ambiental;
    13. Consolidar a atuação brasileira na política ambiental global.
    A sistematização das propostas pela candidata do PT apresenta certo avanço, pois se começa a desenvolver uma idéia global da problemática, políticas ambientais que não caminhem em consonância com o crescimento econômico, político e social não se sustentam, acabam por se tornar demagogas e publicitárias. Entretanto apenas a divulgação de proposições sem a subseqüente exposição do planejamento, não define o candidato como mais bem preparado. Deve-se expor na pratica as medidas que seriam tomadas, pois é isto que se espera de um presidente, o seu diferencial esta na forma com que lida com os mesmos problemas que os outros, planejamento, administração e gerencia.
    Em acordo com as propostas de Dilma o Presidente Lula, principal apoiador da campanha de Dilma, em abril comentou no Blog do Planalto sobre a transposição do São Francisco, denotando grande entusiasmo na obra, mostranhdo que essa consiste em importante ferramenta para o desenvolvimento do pais.
    “Para falar apenas da transposição, que você citou, sabe quando surgiu a proposta? Em 1847, época do Império. De lá para cá, vários governos elaboraram estudos, projetos, mas nada saiu do papel. As obras só tiveram início em nosso governo. São dois canais: o Eixo Norte e o Eixo Leste. O primeiro levará água por 400 km aos sertões de Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte e tem 24% das obras já realizadas. O Eixo Leste, com 220 km, vai levar água às regiões agrestes de Pernambuco e Paraíba. Obras realizadas: 41%; conclusão: 2010. Como diz um provérbio chinês, “uma caminhada de mil léguas começa com o primeiro passo”. E nós temos o orgulho de, após mais de um século e meio de protelações, ter dado o primeiro passo e muitos outros no rumo da concretização deste sonho.”
    “São 9 mil trabalhadores atuando em várias frentes no sentido de concretizar este sonho dos nordestinos, que nasceu no longínquo ano de 1847, e só agora começa a se tornar realidade. Nada menos que 12 milhões de habitantes de cidades pequenas, médias e grandes da região semiárida do Nordeste serão beneficiados. Trata-se de um empreendimento que não tem volta.”

    Serra
    Não foi encontrado no site do PSDB qualquer mensão a respeito do rio São Francisco, e para acessar o link de propostas de meio ambiente no site, é necessário ser cadastrado no site, ou seja, apenas aliados do PSDB. No site de campanha de José Serra encontramos apenas o trecho abaixo referente ao meio ambiente, sem qualquer articulação com outras áreas como economia e política. Novamente as propostas tomam som de promessa, não apresentando qualquer embasamento em procedimentos e ações pragmáticas.
    Implantar uma Politica Nacional de Mudanças Climáticas, com metas compulsórias de redução de emissão de carbono e incentivos à Economia de Baixo Carbono
    Investir na área de pesquisa em biodiversidade
    Fomentar a criação de um Fundo Internacional de Proteção da Amazônia
    Garantir a preservação de áreas de manancial, encostas, matas ciliares
    Investir na RECUPERAÇÃO de áreas degradadas - florestas, cerrado, mangues, matas ciliares etc.
    Exigir o fornecimento de diesel limpo pela Petrobrás
    Investir em eficiência energética e novas tecnologias, ampliando a geração de energia de fontes renováveis e não poluentes.

    No debate realizado no mês de setembro em Recife, Plínio fala sobre o apoio de Serra à transposição do Rio São Francisco, argumentando à quem serve esse projeto:
    Ao questionar Plínio sobre qual deve ser o foco para o Nordeste, Serra foi criticado pelo candidato do PSOL, que apontou a "oligarquia que sufoca a região". "Você e Dilma têm aliados desse grupo", disse Plínio. Serra afirmou que "a coisa não é bem por esse caminho" e disse ver a educação como uma das questões fundamentais para a região. "Devemos investir na educação profissional", disse o tucano. (FONTE: G1.globo.com)

    Marina Silva
    A candidata que ao não ir para o segundo turno causou grande impacto sobre os outros concorrestes pertence ao partido que se mostra mais engajado ambientalmente, seu discurso ecológico se sobrepõe, perante aos demais assuntos. Como definido pelo próprio partido o PV serve como instrumento político da ecologia. No site há uma lista dos princípios do partico, que se misturam à proposta de governo. Destaca-se o item 2:
    Considerando a crescente impotência dos estados nacionais, mesmo os das nações mais poderosas, de controlar os fluxos da especulação financeira internacional e o aprofundamento das desigualdades na relação norte-sul; o aumento da exclusão, do desemprego e das injustiças sociais; as ameaças ambientais em escala planetária, como o "efeito estufa", a deterioração da camada de ozônio e a proliferação nuclear; os verdes deve tomar a iniciativa de propor formas supranacionais de controle democrático sobre as movimentações especulativas de capitais, sobre o fluxo de produtos e serviços que não contemplem em seus países de origem a sustentabilidade econômica, social e ambiental, e as agressões ao meio ambiente de efeito global.
    É necessário destacar que o PV é o único dos partidos cujo os sites analisados apresentam não apenas propostas, mas também uma política ideológica atrelada a forma a um modelo de gestão, ou ao menos um esboço do que o seria. Articulando em 12 tópicos sobre temas desde política externa a economia verde, como se dariam os princípios de gestão segundo sua ideologia ambiental.
    No mesmo debate realizado em Recifem Plínio questiona Marina sobre seu posicionamento da candidata em cercos momentos de campanha contra a transposição do São Francisco.
    O primeiro embate, que opôs Plínio e Marina, veio logo no primeiro bloco, em relação à transposição do rio São Francisco. O candidato do PSOL acusou Marina de ter "abandonado" o bispo de Barra (BA), dom Luiz Cappio, que promoveu greve de fome contra a obra. A candidata do PV disse que Plínio estava "completamente desinformado" e defendeu sua atuação à frente do Ministério do Meio Ambiente durante o licenciamento ambiental do empreendimento.
    "Tive atitude de profundo respeito pelo d. Cappio.Trabalhamos muito para que a licença [ambiental] fosse dada com qualidade técnica e respeito ético", disse Marina. "Você deixou dom Cappio na mão na hora e depois não pediu demissão [do ministério]", afirmou Plínio. (FONTE: g1.globo.com)

    Debate entre Costa e Anastasia.
    No primeiro bloco do debate da TV Globo Minas, em Belo Horizonte, os candidatos ao governo de Minas Gerais discutiram temas como educação e meio ambiente. Os dois concorrentes mais bem colocados nas pesquisas chegaram a se confrontar. Em sua primeira pergunta, dirigida a Hélio Costa (PMDB), o candidato Antonio Anastasia (PSDB) questionou o concorrente sobre investimentos em meio ambiente.
    O candidato do PMDB desviou o foco da pergunta para um dos temas mais polêmicos sobre a questão ambiental em Minas: a transposição do Rio São Francisco.
    Em sua fala, Costa insinuou que o governo Anastasia e o antecessor Aécio Neves (PSDB) apresentaram empecilhos para a construção de barragens. "O governo do Estado disse que a trasnposição levaria 60% das águas para fins comerciais. Consultei a Agência Nacional de Águas (ANA) e disseram que nunca houve isso".
    Segundo Costa, a preservacao do Rio São Francisco é o maior problema ambiental de Minas e para fazer a transposição seriam feitas obras ambientais. Anastasia retrucou e garantiu que os dados sobre o comprometimento trazido com as obras foram repsssados por um relatório de impacto ambiental, que aludiriam aos tais 60% de comprometimento

    Fonte:

    http://www.revistavoto.com.br/site/noticias_detalhe.php?id=1911&t=PV_de_Marina_decide_no_domingo_apoio_no_segundo_turno
    http://noticias.terra.com.br/eleicoes/2010/noticias/0,,OI4706460-EI15328,00-Rio+Sao+Francisco+e+tema+de+discussao+entre+Costa+e+Anastasia.html
    http://blog.planalto.gov.br/usuarios-de-drogas-transposicao-do-rio-sao-francisco-e-servidores-publicos-federais/
    http://www.pt.org.br/portalpt/
    http://blog.planalto.gov.br/transposicao-do-rio-sao-francisco-reducao-de-impostos-para-alimentos-e-cpmf/
    http://blogdapontadaserra.blogspot.com/2010/04/060410-transposicao-do-rio-sao.html
    http://www.pt.org.br/portalpt/dados/bancoimg/101014145316Folder-A4-Meio-ambiente.pdf
    http://www.serra45.com.br/proposta/meio-ambiente
    http://g1.globo.com/especiais/eleicoes-2010/noticia/2010/09/marina-plinio-e-serra-participam-de-debate-sobre-regiao-nordeste.html
    http://www.hojenoticias.com.br/busca/transposicao-rio-sao-francisco/
    http://www.pv.org.br/interna_programa.shtml

    quarta-feira, 13 de outubro de 2010

    A Verdadeira historia do Rio São Francisco


    O São Francisco como qualquer rio desperta na comunidade ribeirinha os mais profundos sentimentos afetivos, exercendo enorme influencia sobre o imaginário das pessoas, criando as mais diversas lendas e mitos, firmando por conseqüência a identidade cultural desse povo. Assim justifico a postagem de uma pequena seqüência de mitos e lendas que permeiam nas comunidades que vivem a margem do Velho Chico.

    A Lenda da Origem do Rio

    Vivia os índios, nos chapadões, em várias tribos felizes. Entre esses estava uma linda mulher, a doce Iati. Era noiva de um forte guerreiro, quando houve uma guerra nas terras do norte e todos os guerreiros se foram para a luta. Eles eram tantos que os seus passos afundaram a terra formando um grande sulco. Entre eles se foi o noivo da formosa índia que tomada de saudades pelo seu amado chorou copiosamente. Suas lágrimas foram tantas que escorreram pelo chapadão despencando do alto da serra formando uma linda cascata, e caindo no sulco criado pelos passos dos Guerreiros, escorreram para o norte e lá muito longe se derramou no oceano, e assim se formou o rio São Francisco.


    O Rio Dorme

    Há uma lenda em todo o Médio São Francisco sobre o sono do rio. A meia noite as águas adormecem, o rio se aquieta por alguns minutos, e todos os seres de suas águas adormecem. Nesses poucos momentos não se pode despertá-los, pois acordados as águas se enfurecem virando as canoas e inundando as terras. Não se deve, portanto desrespeitar o leve sono das águas. Quando o rio dorme as almas dos afogados se dirigem para as estrelas, a mãe d'água sai e se senta nas pedras no meio do rio e enxuga os longos cabelos, os peixes param no fundo do rio, as cobras perdem o veneno. Se alguém despertar as águas ficam tulmutuadas e bóiam todos os cadáveres dos afogados e não há quem possa navegar.




    O Nego D’água ou Caboclo D’água

    Há quem afirme de viva voz que já viu aquela figurinha atarracada de cabeça grande e olho no meio da testa. O "nego d'água" que habita nos locais dos rochedos do meio do rio, como também escava suas covas na base do barranco da beira do rio, o que provoca tombamento do mesmo. Para afugentá-lo desses locais que terminava alargando o rio, os beiradeiros jogam nesse ponto cacos de vidro, que amedrontam o caboclo d'água. Apesar de viver também fora d'água ele nunca se afasta muito da beira do rio. Quando não gosta de um pescador, afugenta os peixes, tange-os para longe da rede de pesca. Como a caipora, adora fumo, costume que faz com que os pescadores atirem fumo a água para cair nas graças do negrinho que gosta desse agrado, costuma aparecer nas casas de farinha das ilhas ou dos barrancos e noite de farinhada, comumente depois que os trabalhadores se acomodam para dormir, passeando entre os que estão adormecidos, para roubar-lhes fumo ou beiju.
    É em personagem encantada transformando-se em outro animal ou objeto. Um pescador contou que pescava a noite quando percebeu um vulto de um animal morto boiando na correnteza. Remou apressadamente em direção ao animal, percebendo ao se aproximar que se tratava de um cavalo, e aí tentou encostar a canoa para verificar a marca ou ferro, para avisar ao dono, quando o animal afundou e logo em seguida, a canoa foi sacudida, percebendo o pescador que um nego d'água agarrado à borda da embarcação tentava virá-la.
    Nesse instante lembrou-se o pescador que trazia um pequeno pedaço de fumo, que imediatamente atirou para o neguinho que dando cambalhotas, desapareceu no fundo das águas. Alguns dizem que existe apenas um nego d'água em todo o rio, outros dizem que são muitos. O fato é que o nego d'água, povoa a imaginação de todo menino beiradeiro, o que sossega os corações das mães, pois a noite os pequenos só se aproximavam da água acompanhados por adultos.
    O fato de ter ficado por longo período isolado desenvolveu, no são franciscano, suas crendices e medos dentro do seu próprio universo. Nada trazido de outras regiões. A maioria dos duendes, bons ou maus, são ligados a água, da qual fazem seu habitat.

    Extraido de: http://parlim.blogspot.com/

    O Minhocão

    O escritor barranqueiro Wilson Lima, assim se refere ao minhocão “O minhocão” ou surubim rei, é o rei do rio, mandando e desmandando em tudo na vontade dos peixes e na vontade das águas. Na opinião de muitos "o minhocão" é um surubim de mais de trezentos anos de idade que perdeu as barbatanas de tão velho, ficou roliço sem escamas e que enfurecido por isso vive fazendo mal, virando embarcações, comendo os outros peixes. Dizem que do minhocão nascem os porcos d'água, monstros das profundezas, muito feios, que têm a frente de porco e o resto do corpo de peixe e que nadam muito, e sob as ordens do minhocão cavam os barrancos fazendo-os tombar e danificam assim as roças de vazante plantadas pelos beiradeiros.

    A Pesadeira

    Extraido de: http://historianovest.blogspot.com/
    Uma mulher com um gorro vermelho na cabeça que se senta no peito daqueles que dormem de papo pro ar. Por isso é que há sempre a recomendação a todos que são estranhos ao vale quando ali chegam são advertidos para não dormir nesta posição, pois a pesadeira virá sentar-se no peito desse desprevenido, mas há uma vantagem, aquele que conseguir tirar ou roubar sua roupa da pesadeira, a torna sua escrava e conseguirá tudo que desejar.
    Contam que certo beiradeiro deitou-se para a sesta, quando sentiu o peso da pesadeira sentada em seu peito. Ainda entre dormindo e acordado o sabido estendeu o braço e tirou a touca da pesadeira que satisfez todos os seus desejos; era muito pobre, se tornou o homem mais rico da região.

    

    Fontes:

    segunda-feira, 11 de outubro de 2010

    Usina nuclear no São Francisco



    Após a instalação de usinas Hidroelétricas no Rio São Francisco, a nova proposta do governo Federal, engendrada pelo PTista Marcelo Déda e pelo  deputado federal PSDBista Alberto Franco, que travam uma bizarra aliança, é a defesa da instalação de uma usina de Energia Elétrica de Matriz Nuclear. O artigo é escrito por César Gama, jornalista, que escreveu o artigo com base em sua monografia. Apesar de bastante compassivo o artigo apresenta uma serie de boas contra-argumentações sobre a construção da usina.

     O artigo foi publicado no site “Respeito ao Velho Chico”, que hoje trazemos também como dica de visita, pois traz diversos artigos a respeito da transposição do Rio São Francisco e uma serie de reportagens de cunho cultural sobre o Velho Chico.


    (*) César Gama é jornalista, psicanalista, professor, formando em Biologia, bacharelando em Filosofia e membro voluntário do Greenpeace. Este texto foi elaborado com dados de sua monografia de conclusão do curso de Licenciatura, intitulada “O estorvo da Energia Nuclear: ou de como a suposta ‘energia limpa’ é tão cara ao ambiente”.

    domingo, 10 de outubro de 2010

    Obras do PAC: Projeto São Francisco

    Link com vídeo publicitário sobre o andamento das Obras do PAC relacionado a Recursos Hídricos, caso do Rio São Francisco

    http://www.youtube.com/watch?v=TWQ_IA5fKso&feature=related

    Entrevista com o Governador João Alves Filho

    Hoje trazemos o link de uma entrevista com o político João Alves Filho, governador do estado do Sergipe, exibida no “Programa do Jô”, na qual é discutido o problema da transposição do rio São Francisco, sob a ótica de um político e engenheiro, que se dedicou a pesquisa do problema da seca no semi-árido João Alvez também trata das falhas técnicas do projeto bem como de irregularidades da licitação e inviabilidade econômica da empreitada. Trata também da questão da diminuição da força do rio, que antigamente chegava a ter uma força de penetração de 16 km mar adentro, e hoje devido o uso excessivo de suas águas, desmatamento da mata ciliar, desrespeito ao período de recarga e mineração irregular e etc, faz com que hoje peixes típicos de água salgada sejam encontrados 152 km da foz do rio, indicio que a vazão do rio diminuiu significantemente. O depoimento conta com uma analise técnica comparativa em relação à transposição do Rio Amarelo na China.

    Governador João Alves Filho em entrevista ao Programa do Jô
    Links da entrevista no Programa do Jô


    Link da entrevista de João Alves Filho ao jornal Folha de SP

    sábado, 9 de outubro de 2010

    Descrição do quadro Físico do Rio São Francisco

    Uma das principais funções desse Blog é divulgar e conscientizar a informação acerca de um objeto de estudo relacionado à temática Gestão de Recursos Hídricos, nosso alvo é o Rio São Francisco, ou Opará  como é conhecido regionalmente. Entretanto entendemos que toda a informação vinculada deve estar estritamente ligada aos sabares científicos, pois se tratando de um trabalho acadêmico é fundamental o conhecimento técnico e teórico acerca de nosso objeto de estudo. Assim para efeito de uma análise sólida trataremos a seguir de uma serie de informações sobre as características físicas do Opará como Geologia, Geomorfologia, Solos e Climatologia, para que ao lermos e discutirmos as reportagens que aqui traremos, possamos não apenas entender  com propriedade importantes questões, relacionadas  a transposição do rio, instalações de hidroelétricas, transporte hidroviário, gestão do curso hídrico,  e etc, mas como principalmente desenvolver o senso critico próprio.
    O Rio São Francisco estende-se por 2,830 Km desde sua nascente, a 1200 metros de altitude em são Roque de Minas na Serra da Canastra em Minas Gerais, onde 37% da área da bacia esta instalada,  atravessa a Bahia, fazendo divida ao norte com Pernambuco e traçando a divisa natural com Sergipe e Alagoas. Desaguando no Oceano Atlântico, a área da bacia corresponde a 641 000 km². são ao todo 5 estados banhados pelo rio, que recebe 90 afluentes pela margem direita e 78 afluentes pela margem esquerda, sendo que do total de 168 afluentes, 99 delas são perenes. Os principais afluentes são o Rio Paraopeba, Rio Abaeté, Rio das Velhas, Rio Jequitaí, Rio Paracatu, Rio Urucuia, Rio Verde Grande, Rio Carinhanha, Rio Corrente e Rio Grande. Com uma declividade media de 8,8 cm/Km e media de Vazão na Foz de 2,943 m³/s
    Os trechos navegáveis se encontram principalmente entre o médio e baixo curso. Os maiores trechos navegáveis com cerca de 1371 km de extensão estende-se entre Pirapora  (MH) e Juazeiro(BA)/ Petrolina (PE), onde são transportado mercadorias como cimentis, sal açúcar, soja, manufaturas, madeira e principalmente gpsita, além do transporte de turistas em embarcações normalmente equipadas com caldeiras e lenhas.

    Geologia
    A formação Urucuia ou Itapecuru, contemporânea ao Cretáceo Superios, abrange a maior parte da área, compreendendo a chapada que constitui o divisor de águas entre as Bacias do Tocantins, São Francisco e Parnaíba. È constituída quase exclusivamente por arenito de cores diversas, predominantemente o cinza, o róseo e o vermelho; é fina, de cimento argiloso ou silicoso, por vezes com estratificação cruzada, indicando alternância de períodos climativos influindo diferencialmente sobre a deposição de arenito.. Ocorrem nos arenitos concreções silicosas esparsas, assim como intercalações irregulares de conglomerados. Intercalam-se leitos de siltitos e/ou folhetos cinza-esverdeados e avermelhados. O contato inferior é discordante e parece ser feito com Grupo Bambuí (Cretáceo).
    No Cambriano Superior no Grupo Bambuí notam-se duas fácies distintas: uma preferencial de calcário e outra clástico. O calcário é pouco metamórfico, de coloração normalmente cinza-escura e preta, de granulação fina, algumas vezes média, estratificação em bancos. O fácies clástico consiste de arenitos de granulação variada por vezes conglomeráticos, com intercalações de siltitos, argilitos e ardósias. Estas rochas por vezes estão recobertas por material retrabalhado de natureza variada.
    Formação arenítica aflorada após diminuição do nível do Rio São Francisco


    Geomorfologia

    Com base nas variedades de ordem endógena estruturais e diversidades de formas topográficas, fruto de atividades exógenas, principalmente climáticas, foram distintas as seguintes unidades geomorfológicas na área de estudo.
    Terraços Aluviais instalados às margens do Rio São Francisco e alguns de seus afluentes, cujo material, principalmente arenoso da formação Urucuia, é de origem colúvio-aluvial e de deposição recente (Holoceno). São terrenos planos onde podem ocorrer microrrelevos possuindo 350 a 400 m de variação altimétrica.
    Cânion esculpido pela ação modeladora do rio São Francisco 
    Planalto Ocidental ocupa praticamente a metade de toda a área, onde se destacan-ses três aspectos:
    Plataforma aplainada - representa o grande núcleo elevado (Espigão Mestre) com relevo predominantemente plano, compreendendo altitudes de 700 a 900 m.
    Baixadas - constituem áreas rebaixadas com altitudes entre 450 e 700 m, em forma de calhas suaves que recortam o planalto do Espigão Mestre.
    Encostas de Planaltos - abrange as superfícies irregulares, por vezes bastante erodidas, que fazem parte do contorno do Planalto nos seus limites orientais, ou penetrando um pouco pelos seus vales. O relevo nessas áreas é bastante variável, ocorrendo desde escarpas muito íngrimes até áreas suavemente onduladas, onduladas e forte onduladas. Suas altitudes oscilam entre 500 e 700 m.
    A Planície Orientalconsiste em uma grande superfície aplainada, compreendida entre a frente oriental do Planalto Ocidental e o Rio São Francisco. O relevo nessas áreas é predominantemente plano com algumas partes suaves onduladas. Compreende desde o sopé do Planalto até o conjunto das serras do Boqueirão, Muquém, Ponta do Morro e o Rio São Francisco. Com variação altimétrica de 400 aos 600 m.
    Planícies e Pediplanos Setentrionais considerada a área mais estreita que se estende para o norte, abrangendo o que se pode chamar de uma planície irregular intermontana com setores pediplanados, situando-se entre as serras que limitam a Planície Oriental e os limites da área de estudo.
    Serras e Incelbergs constituem os maciços residuais elevados, com encostas ora mais, ora menos íngremes, apresentando relevo que varia de predominantemente ondulado a montanhoso. No entanto, podem ser encontradas superfícies aplainadas, no topo de alguma serra. Suas altitudes variam de 500 a 800 m.
      
    Ao Holoceno são referidas as formações sedimentares mais recentes, destacando-se os depósitos fluviais (aluviões) e coluviais. São constituídas por sedimentos não consolidados cuja natureza e granulometria é muito variada. Ocorrem em faixa estreita e descontínua ao longo do Rio São Francisco e de alguns de seus afluentes. Os sedimentos que constituem os aluviões do Rio São Francisco são de natureza, granulometria e composição heterogêneas, sendo encontrados sedimentos argilosos, siltosos, argilo-siltosos e arenosos. Nas áreas que constituem as veredas dos afluentes do São Francisco, os sedimentos são predominantemente arenoso-argilosos com grande contribuição de deposições orgânicas.
    No Quaternário as Formação Vazantes são constituídas de areias com cascalhos e intercalações argilosas. A deposição em grandes áreas, graças ao abaixamento resultante de movimentos regionais, produziram uma grande planície de inundação. O Rio São Francisco atualmente disseca esses sedimentos que se encontram elevados em relação às suas margens. Este manto de sedimento, responsável em boa parte pela origem de solos de fertilidade média a alta na área estudada, normalmente recobre parte das áreas de ocorrência de outros materiais do Grupo Bambuí e do Pré-Cabriano Indiviso, entre outros. A espessura deste recobrimento é muito variada, porém não ultrapassando 10 metros.

    Clima
    Esta região possui duas estações climáticas bem definidas: a estação seca e fria que vai de maio a setembro, e a estação chuvosa e quente que vai de outubro a abril. Sua posição geográfica assegura temperaturas elevadas durante boa parte do ano, devido à forte radiação solar. Porém, nos níveis altimétricos mais elevados as temperaturas são mais amenas. Desta forma, as temperaturas médias máximas e mínimas variam entre 26 e 20ºC. A pluviosidade varia no sentido leste-oeste de 800 mm a 1.600 mm por ano, concentrando-se nos meses de novembro a março. A umidade relativa média do ar é de 70%, sendo a máxima de 80% em dezembro e a mínima de 50% em agosto.




    Solos
    No Planalto Ocidental predominam Latossolos Amarelos e Vermelho-Amarelos de textura média e Neossolos Quartzarênicos (Areias Quartzosas). Nos vales dos rios e veredas, são encontrados principalmente Gleissolos e Organossolos. Esses solos apresentam baixa fertilidade natural, tendo o relevo plano como principal vantagem ao uso agrícola. Entretanto a preseça das Areias Quartzosas é responsável pela intensa atividade de mineração de areia do Rio São Francisco, gerando um grave quadro de assoreamento.
    Solo Arenoso na margem do rio

    Nas planícies são encontrados Latossolos, Argissolos, Neossolos Quartzarênicos e, com menos freqüência, Luvissolos e Planossolos. A grande variação de solos nessa região se deve a variação do material geológico original. Nessa região são encontrados solos com alta e com baixa fertilidade natural. Nas serras e incelbergs predominam os Neossolos Litólicos (Solos Litólicos), que são solos rasos e muito susceptíveis à erosão, devido ao alto índice de declividade.










    Fonte:

    http://www.bndes.cnpm.embrapa.br/textos/relevo.htm
    http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/geomorfologia/geomorfologia.php


    terça-feira, 5 de outubro de 2010

    A quem serve a transposição do São Francisco?

    A problemática da transposição do Rio São Francisco não é uma polemica atual, há décadas o projeto nomeado pelo Governo brasileiro por "Projeto de Integração do Rio São Francisco com Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional" e é apresentado por muitos como única solução viável para o problema da seca no nordeste.
    O projeto orçado em quatro bilhões e meio de reais, pretende sob a execução do Ministério da Integração Nacional construir dois canais que totalizam 700km de extensão. Entretanto existe um forte embate de opiniões sobre não apenas a viabilidade de execução do projeto como também do acesso da comunidade pós termino da transposição. Um principais argumentos pende quanto ao uso da água: os críticos do projeto alegam que a água será retirada de regiões onde a demanda por água para uso humano e dessedentação animal é maior que a demanda na região de destino e que a finalidade última da transposição é disponibilizar água para latifúndios agropecuários.

    Em entrevista ao Jornal Folha de São Paulo, em fevereiro de 2005, o Geógrafo Aziz Ab’Sáber, professor da Universidade de São Paulo debateu sobre o tema “transposição do Rio São Francisco” com um artigo denominado “A quem serve a transposição do São Francisco?, artigo de Aziz Ab’Saber”, no qual posiciona-se contrario à transposição.


    É compreensível que em um país de dimensões tão grandiosas, no contexto da tropicalidade, surjam muitas idéias e propostas incompletas para atenuar ou procurar resolver problemas de regiões críticas.

    Entretanto, é impossível tolerar propostas demagógicas de pseudotécnicos não preparados para prever os múltiplos impactos sociais, econômicos e ecológicos de projetos teimosamente enfatizados.

    Tem faltado a eventuais membros do primeiro escalão dos governos qualquer compromisso com planificação metódica e integrativa, baseada em bons conhecimentos sobre o mundo real de uma sociedade prenhe de desigualdades.

    Nesse sentido, bons projetos são todos aqueles que possam atender às expectativas de todas as classes sociais regionais, de modo equilibrado e justo, longe de favorecer apenas alguns especuladores contumazes. Pessoalmente, estou cansado de ouvir propostas ocasionais, mal pensadas, dirigidas a altas lideranças governamentais.

    Nas discussões que ora se travam sobre a questão da transposição de águas do São Francisco para o setor norte do Nordeste Seco, existem alguns argumentos tão fantasiosos e mentirosos que merecem ser corrigidos em primeiro lugar.

    Referimo-nos ao fato de que a transposição das águas resolveria os grandes problemas sociais existentes na região semi-árida do Brasil. Trata-se de um argumento completamente infeliz lançado por alguém que sabe de antemão que os brasileiros extra-nordestinos desconhecem a realidade dos espaços físicos, sociais, ecológicos e políticos do grande Nordeste do país, onde se encontra a região semi-árida mais povoada do mundo.

    O Nordeste Seco, delimitado pelo espaço até onde se estendem as caatingas e os rios intermitentes, sazonários e exoreicos (que chegam ao mar), abrange um espaço fisiográfico socioambiental da ordem de 750.000 quilômetros quadrados, enquanto a área que pretensamente receberá grandes benefícios abrange dois projetos lineares que somam apenas alguns milhares de quilômetros nas bacias do rio Jaguaribe (Ceará) e Piranhas/Açu, no Rio Grande do Norte.

    Portanto, dizer que o projeto de transposição de águas do São Francisco para além Araripe vai resolver problemas do espaço total do semi-árido brasileiro não passa de uma distorção falaciosa.

    Um problema essencial na discussão das questões envolvidas no projeto de transposição de águas do São Francisco para os rios do Ceará e Rio Grande do Norte diz respeito ao equilíbrio que deveria ser mantido entre as águas que seriam obrigatórias para as importantíssimas hidrelétricas já implantadas no médio/baixo vale do rio -Paulo Afonso, Itaparica, Xingó.

    Devendo ser registrado que as barragens ali implantadas são fatos pontuais, mas a energia ali produzida, e transmitida para todo o Nordeste, constitui um tipo de planejamento da mais alta relevância para o espaço total da região.

    De forma que o novo projeto não pode, em hipótese alguma, prejudicar o mais antigo, que reconhecidamente é de uma importância areolar. Mas parece que ninguém no Brasil se preocupa em saber nada de planejamentos pontuais, lineares e areolares. Nem tampouco em saber quanto o projeto de interesse macrorregional vai interessar para os projetos lineares em pauta.

    Segue-se na ordem dos tratamentos exigidos pela idéia de transpor águas do São Francisco para além Araripe a questão essencial a ser feita para políticos, técnicos acoplados e demagogos: a quem vai servir a transposição das águas? Uma interrogação indispensável em qualquer projeto que envolve grandes recursos, sensibilidade social e honestas aplicações dos métodos disponíveis para previsão de impactos.

    Os ‘vazanteiros’ que fazem horticultura no leito dos rios que ‘cortam’ -que perdem fluxo durante o ano- serão os primeiros a ser totalmente prejudicados. Mas os técnicos insensíveis dirão com enfado: ‘A cultura de vazante já era’.

    Sem ao menos dar qualquer prioridade para a realocação dos heróis que abastecem as feiras dos sertões. A eles se deve conceder a prioridade maior em relação aos espaços irrigáveis que viessem a ser identificados e implantados.

    De imediato, porém, serão os fazendeiros pecuaristas da beira alta e colinas sertanejas que terão água disponível para o gado, nos cinco ou seis meses que os rios da região não correm. É possível termos água disponível para o gado e continuarmos com pouca água para o homem habitante do sertão.

    Nesse sentido, os maiores beneficiários serão os proprietários de terra, residentes longe, em apartamentos luxuosos em grandes centros urbanos.

    Sobre a viabilidade ambiental pouca coisa se pode adiantar, a não ser a falta de conhecimentos sobre a dinâmica climática e a periodicidade do rio que vai perder água e dos rios intermitentes-sazonários que vão receber filetes das águas transpostas.

    Um projeto inteligente e viável sobre transposição de águas, captação e utilização de águas da estação chuvosa e multiplicação de poços ou cisternas tem que envolver obrigatoriamente conhecimento sobre a dinâmica climática regional do Nordeste.

    No caso de projetos de transposição de águas, há de ter consciência que o período de maior necessidade será aquele que os rios sertanejos intermitentes perdem correnteza por cinco a sete meses. Trata-se porém do mesmo período que o rio São Francisco torna-se menos volumoso e mais esquálido. Entretanto, é nesta época do ano que haverá maior necessidade de reservas do mesmo para hidrelétricas regionais. Trata-se de um impasse paradoxal, do qual, até agora, não se falou.

    Por outro lado, se esta água tiver que ser elevada ao chegar a região final de seu uso, para desde um ponto mais alto descer e promover alguma irrigação por gravidade, o processo todo aumentará ainda mais a demanda regional por energia.

    E, ainda noutra direção, como se evitará uma grande evaporação desta água que atravessará o domínio da caatinga, onde o índice de evaporação é o maior de todos? Eis outro ponto obscuro, não tratado pelos arautos da transposição.

    A afoiteza com que se está pressionando o governo para se conceder grandes verbas para início das obras de transposição das águas do São Francisco terá conseqüências imediatas para os especuladores de todos os naipes.

    Existindo dinheiro - em uma época de escassez generalizada para projetos necessários e de valor certo -, todos julgam que deve ser democrática a oferta de serviços, se possível bem rentosos. Será assim, repetindo fatos do passado, que acontecerá a disputa pelos R$ 2 bilhões pretendidos para o começo das obras.

    O risco final é que, atravessando acidentes geográficos consideráveis, como a elevação da escarpa sul da chapada do Araripe -com grande gasto de energia!-, a transposição acabe por significar apenas um canal tímido de água, de duvidosa validade econômica e interesse social, de grande custo, e que acabaria, sobretudo, por movimentar o mercado especulativo, da terra e da política. No fim, tudo apareceria como o movimento geral de transformar todo o espaço em mercadoria.

    (Folha de SP, 20/2)